Saturday, June 28, 2008

François Mitterrand, porta-voz das "dúvidas" soviéticas sobre Cunhal?


François Mitterrand era líder do PCF e da oposição em França quando foi a Moscovo, de 23 a 28 de Abril de 1975. No regresso, a embaixada norte-americana em Paris recolheu as opiniões de Mitterrand sobre a visita e o que pensava que os soviéticos pensavam da revolução portuguesa e dos seus "planos" para a Península Ibérica.
No telegrama enviado para o Departamento de Estado, em Washington, a embaixada emite também uma opinião ou “impressão” de Mitterrand sobre Álvaro Cunhal, secretário-geral do PCP e fiel aliado desde há décadas do partido irmão soviético, do “centro”. Seria mesmo? A avaliar pelos contactos na capital soviética, não. Melhor dizendo: a liderança soviética – o Kremlin ou o Partido Comunista da União Soviética (PCUS)? - tinha dúvidas ou fazia passar a ideia de que tinham dúvidas.
O telegrama tem como fontes “os mais directos colaboradores” daquele que viria a ser presidente de França e aliado de peso de Mário Soares nesses meses agitados. Mitterrand, segundo os seus colaboradores, “regressou de Moscovo convencido de que os soviéticos não têm uma estima muito grande pelo líder do Partido Comunista Português Cunhal, cuja inexperiência política e intransigência pessoal olham como uma força desestabilizadora na Europa”.
“Na ausência de melhor alternativa, Mitterrand espera que o PCUS continue a apoiar Cunhal, apesar de considerar altamente exageradas as notícias da imprensa sobre os fortes apoios financeiros dos soviéticos [ao PCP]. Na sua opinião, os soviéticos estão claramente mais interessados na estabilidade política da Europa Ocidental do que em ganhos nacionais”, pode ler-se no telegrama. Em Portugal, no caso.
Surpreendente ou talvez não. Esta visão, porém, não era consensual. Giscard d'Estaing, por exemplo, não tinha esta opinião tão "simpática" das intenções soviéticas. Bem pelo contrário.







Extracto do telegrama dos National Archives, que pode ser consultado aqui.






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TAGS: PINT, FR, PFOR, UR

SUBJECT: PS/PCF RELATIONS AFTER MITTERRAND'S MOSCOW TRIP

SUMMARY AND CONCLUSIONS. IN THE AFTERMATH OF SOCIALIST
PARTY FIRST SECRETARY FRANCOIS MITTERRAND'S MOSCOW TRIP,
FRENCH SOCIALIST/COMMUNIST (PS/PCF) RELATIONS ARE
ENTERING A NEW PHASE. AFTER SOME SEVEN MONTHS OF PUBLIC
SQUABBLING, THE PS AND PCF HAVE COOLED THEIR POLEMIC
AND ARE MAKING SOME MOVES TOWARD GREATER DIALOGUE.
FOLLOWING HIS MOSCOW TRIP, MITTERRAND INVITED HIS PCF
PARTNERS IN THE UNITED LEFT TO A SUMMIT MEETING; ALTHOUGH
THE PCF HAS NOT OFFICIALLY AGREED, THE PARTY'S
CENTRAL COMMITTEE HAS INDICATED THAT IN PRINCIPLE IT IS
NOT OPPOSED.
WITH MITTERRAND RIDING HIGH ON WHAT THE PS PERCEIVES AS
THE INTERNATIONAL RECOGNITION BESTOWED ON IT BY THE
MOSCOW TRIP, WITH THE PS IN A STRONGER POSITION TO
ASSERT ITSELF WITHIN THE UNITED LEFT -- AS POLLS CONFIRM
THAT THE PCF HAS SLIPPED BADLY WHILE THE PS HAS MADE
MAJOR GAINS, THE PCF SEEMS TO HAVE OPTED AGAINST A
CONTINUATION OFITS PUBLICQUARREL WITH THE PS. THE
UNION OF THE LEFT'S DOMESTIC POLICY MAY TAKE A SLIGHT
TURN TO THE LEFT -- AS THE PRICE WHICH THE PS WILL HAVE
TO PAY IN ANY SUMMIT NEGOTIATION. HOWEVER, FOREIGN
POLICY DIFFERENCES BETWEEN THE PS AND PCF WILL REMAIN
AND COULD EVEN BECOME MORE PRONOUNCED OVER SUCH ISSUES
AS FRANCE'S NATO MEMBERSHIP, THE EC AND SALT/MBFR.
OVER THE NEAR TERM THIS UNEASY ALLIANCE WILL TAKE ON A
MORE CORDIAL TONE, BUT THE SUBSTANCE OF PS/PCF DIFFERENCES
REMAINS UNCHANGED.
WE DISCUSS BELOW ASPECTS OF MITTERRAND'S MOSCOW TRIP,
THE PS CONVENTION ON PS/PCF RELATIONS, AND RELATED
INTERNAL DEVELOPMENTS AFFECTING THE UNION OF THE LEFT.
END SUMMARY AND CONCLUSIONS.

1. MITTERRAND'S MOSCOW TRIP (APRIL 23-28): PORTUGAL.
MITTERRAND'S CLOSEST ASSOCIATES HAVE TOLD US THAT HE
RETURNED FROM MOSCOW CONVINCED THAT THE SOVIETS ARE
NOT STRONGLY ATTACHED TO PORTUGUESE COMMUNIST PARTY
LEADER CUNHAL, WHOSE LACK OF POLITICAL EXPERTISE AND
PERSONAL INTRANSIGENCE THEY VIEW AS A POLITICALLY
DESTABILIZING FORCE IN EUROPE. IN THE ABSENCE OF A
BETTER ALTERNATIVE, MITTERRAND EXPECTS THE CPSU TO
CONTINUE TO SUPPORT CUNHAL ALTHOUGH HE DISMISSES PRESS
REPORTS OF HEAVY SOVIET FINANCIAL SUPPORT FOR THE PCP
AS WILDLY EXAGGERATED. IN HIS VIEW, THE SOVIETS ARE
CLEARLY MORE INTERESTED IN WESTERN EUROPEAN POLITICAL
STABILITY THAN IN NATIONAL COMMUNIST GAINS.
(...)

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