Saturday, July 26, 2008

A crítica no Expresso

O PREC visto pelos olhos do «amigo americano» vencedor

«NÃO TRAZ grandes novidades!», sentenciou José Pacheco Pereira, na apresentação do livro Portugal Classificado. Nem por isso o historiador poupou elogios à obra de Nuno Simas, editada pela Alêtheia. Por paradoxal que pareça, tem toda a razão - nos elogios e na sentença. É que a constatação de Pacheco, como o próprio reconheceu então, está longe de constituir o apontar de um defeito. Ao contrário: a grande qualidade do trabalho de Simas, passado a escrito após sete anos de pesquisa, consiste em confirmar, através do recurso a documentos de autenticidade insofismável, a natureza da posição do Governo dos Estados Unidos da América (EUA) sobre Portugal, entre 1973 e 1975. Uma posição tanto mais importante quanto, apesar de todos os erros de cálculo, os norte-americanos não podem deixar de ser colocados entre os vencedores da «revolução» portuguesa. É verdade, como o livro comprova, que os EUA não só não previram o próprio 25 de Abril de 74, como, para utilizar uma expressão de António José Teixeira, no prefácio da obra, foram apanhados «às escuras» pelos seus preparativos. Em Dezembro de 1973, ainda se escrevia num relatório da embaixada americana em Lisboa: «É improvável que se registe instabilidade séria nos próximos meses.» As previsões desastrosas continuaram durante muito tempo. «Em Novembro de 1974, Kissinger foi muito claro quanto às previsões para o futuro do país quando disse a Mário Soares: ‘Quando um país tem um presidente Costa Gomes e um primeiro-ministro Vasco Gonçalves dominados pelo Partido Comunista; quando as forças armadas estão sob o domínio comunista; e quando a comunicação social se encontra dominada, a situação é irreversível’.» O certo é que, apesar de tamanhos erros de análise, os EUA vão revelar uma enorme capacidade de recuperação. Em Janeiro de 75, substituem o embaixador Stuart Scott por Frank Carlucci. Este, mesmo se isso o leva a entrar em frequentes contradições com o centro do poder, em Washington, abandona Spínola à sua sorte, neutraliza Costa Gomes, isola Vasco Gonçalves e Otelo, rejeita qualquer intervenção armada, pressiona com o afastamento de Portugal da NATO e aposta tudo no PPD, no PS e no «grupo dos nove». A 26 de Novembro pode escrever a Henry Kissinger: «A operação de ontem à noite é portuguesa. Se nos associarmos a esta operação isso só pode fragilizar os moderados e prejudicar os seus esforços de capitalizar com os acontecimentos.» Nuno Simas tem a enorme virtude de colocar, com a autoridade que confere a posse de cópias de mais de mil documentos, afirmações como esta na boca dos próprios. O que só é possível porque, como afirmou outro jornalista, Pedro Correia (no blogue «Corta-Fitas»), «o Nuno é um excelente praticante de uma modalidade infelizmente quase extinta: o jornalismo de investigação».João Mesquita

NUNO SIMAS
Portugal Classificado
Alêtheia, 2008, 306 págs., €18

(Recensão do Expresso, sem "link", copiada à "mão")

Friday, July 25, 2008

Amanhã, no Expresso...

... sai a crítica ao meu livro, no caderno Actual. É assinada pelo João Mesquita.

Tensão entre o PCP e a Roménia de Ceausescu

As relações entre o PCP e os comunistas romenos eram tudo menos pacíficas na década da revolução portuguesa, por causa da proximidade do partido liderado por Álvaro Cunhal.
As embaixadas dos Estados Unidos na Europa, a começar por Lisboa e por Frank Carlucci, mantinham boas relações com os diplomatas romenos, com quem iam acompanhando a revolução portuguesa. Os registos desses contactos são múltiplos, depositados nos National Archives.
A 05 de Agosto, estava o governo de Vasco Gonçalves em queda e a luta esquerda direita ao rubro, o primeiro secretário da embaixada romena, Mihai Croitoru, dá uma leitura que os diplomatas norte-americanos em Londres admitem “represente parcial, se não totalmente, a posição do governo romeno”, de Nicolae Ceausescu. É o que se pode ler no telegrama London 12012 enviado para o Departamento de Estado.


CONFIDENTIAL
PAGE 01 LONDON 12012 01 OF 02 051639Z
53
ACTION EUR-12
INFO OCT-01 ISO-00 SAM-01 CIAE-00 DODE-00 PM-03 H-02
INR-07 L-03 NSAE-00 NSC-05 PA-01 PRS-01 SP-02 SS-15
USIA-06 SAJ-01 IO-10 /070 W
--------------------- 085288
R 051621Z AUG 75
FM AMEMBASSY LONDON
TO SECSTATE WASHDC 3499
INFO AMEMBASSY LISBON
AMEMBASSY BUCHAREST
AMEMBASSY MOSCOW
AMEMBASSY PARIS
AMEMBASSY PRAGUE
AMEMBASSY ROME
AMEMBASSY STOCKHOLM
USMISSION NATO BRUSSELS
AMEMBASSY BONN
C O N F I D E N T I A L SECTION 01 OF 02 LONDON 12012
E.O. 11652: GDS
TAGS: PFOR, PINT, PORT, SP, RO
SUBJECT: ROMANIAN DIPLOMAT'S VIEWS ON PORT0GAL

SUMMARY: ROMANIAN FIRST SECRETARY GAVE EMDASSY OFFICER
VIEWS ON SITUATION IN PORTUGAL WHICH ARE OF POSSIDLE
INTEREST SINCE HE UNDOUBTEDLY REFLECTS SOME, IF NOT ALL,
ROMANIAN GOVERNMENT VIEWS. END SUMMARY.
(…)
HE WAS OUTSPOKEN AND DIRECT IN EXPRESSING
A CONCERN THAT PRESENT SITUATION IN PORTUGAL WAS
THREATENING. HE CONCLUDED THAT PORTUGAL PERHAPS WILL
HAVE TO UNDERGO PERIOD OF CIVIL STRIFE AND BLOODSHED.

O diplomata é da opinião de que “provavelmente” Portugal vai entrar um período de quase guerra civil - “conflito social, com derramamento de sangue”.

2. CROITORU ATTACKED PORTUGUESE COMMUNIST LEADER CUNHAL
AS "RIGID DOGMATIST." HE SAID THAT CUNHAL HAS NOT PROVIDED
PORTUGUESE COMMUNISTS WITH THE KIND OF LEADERSHIP
SITUATION DEMANDS WHICH HE ATTRIBUTED TO LENGTHY PERIOD
CUNHAL SPENT IN EXILE IN PRAGUE. DURING EXILE PERIOD
CROITORU SAID CUNHAL SPENT ALL OF HIS TIME IN PRAGUE AND
MOSCOW AND DID NOT VISIT ROMANIA BECAUSE OF ROMANIA'S
INDEPENDENCE FROM MOSCOW. CUNHAL IS EXCESSIVELY DEPENDENT
ON MOSCOW AND NOT FLEXIBLE. BY CONTRAST, SPANISH
COMMUNIST SECRETARY GENERAL HAS SHOWN A GREAT DEAL OF
FLEXIBILITY IN DEALING WITH THE VERY DIFFICULT CIRCUMSTANCES
OF COMMUNIST PARTY IN SPAIN. (FYI: CROITORU
SHOWED CONSIDERABLE FAMILIARITY WITH THE FALLACCI
INTERVIEW WITH CUNHAL. END FYI.)

Neste telegrama, Croitoru é especialmente duro com o líder do PCP, Álvaro Cunhal, por ser um “dogmático inflexível”. Durante os anos do exílio em Moscovo e Praga, disse o diplomata, Cunhal nunca terá visitado Bucareste pela “independência” dos comunistas romenos relativamente ao PCUS e a Moscovo.


9. CROITORU SEES LITTLE POSITIVE IN THE PRESENT SITUATION.
THE POWER STRUGGLE IN THE AFM WILL EVENTUALLY LEAD
TO A COUP OR SEIZURE OF POWER BY A STRONG MAN WITH AN
ENSUING CURTAILMENT OF POLITICAL LIBERTIES, ELIMINATION
OF POLITICAL PARTIES, AND THE KIND OF AUTHORITARIAN REGIM
THE PORTUGUESE HAD FINALLY DIVESTED THEMSELVES OF A YEAR
OR SO AGO. CROITORU BELIEVES THE ONLY POSSIBLE SOLUTION
TO PORTUGAL WAS A PLURALISTIC DEMOCRACY AND A GOVERNING
SOCIALIST/PCP COALITION. HOPES FOR THIS WERE NOW FADING
FAST. CROITORU AGREED WITH A SUGGESTION THAT EITHER
DIRECT MILITARY RULE, WHICH WOULD LIKELY BE OF A RIGHTIST
COLORATION, OR A SEIZURE OF POWER BY THE PCP AND CUNHAL
WOULD BE EQUALLY DISASTROUS FOR DEMOCRACY IN PORTUGAL.


No ponto 9 o telegrama, o primeiro secretário da embaixada romena em Londres adverte para o perigo de um golpe de estado, tanto à direita como à esquerda, incluindo um movimento liderado pelo PCP. Uma ou outra solução “seria desastrosa para a democracia em Portugal”.

Saturday, July 19, 2008

E o fim da ilusão da esquerda... em 1975


"Olhe que não, olhe que não!"

25 de Abril e a ilusão da esquerda!

Imagem do regresso de Cunhal a Portugal em 1974, o tal momento que para uns foi encenado, a exemplo de Lenine, e para outros um mero acaso. Um deles é Jaime Neves, militar que enfileirou na direita, e explicou, numa entrevista ao António Ribeiro Ferreira, no CM, que ele próprio sugeriu a Cunhal que subisse ao blindado para melhor ser ouvido. Na foto, vêem-se Mário Soares, Dias Lourenço.

Cunhal e a art pop



Saturday, July 12, 2008

Bad books don´t exist

É sempre agradável ser "fichado" por um fórum chamado "Bad books don´t exist".
Ainda que me permita discordar: há maus livros, mas esses não merecem ser "fichados"...

Os risos de Marta de la Cal

Marta de la Cal é correspondente há 40 anos da revista “Time” em Portugal. Registo o seu riso sobre um aspecto do primeiro capítulo do meu livro. Escrevi que, segundo os documentos desclassificados, os Estados Unidos foram apanhados de surpresa pelo golpe do 25 de Abril.
Resposta: "(Risos) Ah, eles nunca sabem nada de nada. Nada! Nunca sabem o que se passa. Mas toda a gente sabia que havia um movimento de capitães".

É numa entrevista à revista “Jornalismo&Jornalistas” (sem "link"), do Clube dos Jornalistas. Na entrevista, Marta revela também dados curiosos: que a embaixada norte-americana em Lisboa tentava obter informação aos correspondentes estrangeiros e que ela, Marta, não acreditou na ameaça vermelha, imortalizada pela capa a vermelho da “Time”, que - recorde-se - não foi escrita por ela. “Nunca acreditei na história da ameaça comunista”.

Wednesday, July 09, 2008

Eugénia Cunhal


Eugénia Cunhal, irmã do líder histórico do PCP, é militante comunista; pertence ao sector intelectual do partido em Lisboa, onde também milita, por exemplo, Manuel Gusmão.

Eugénia Cunhal, irmão de Manuel Tiago, escreve mensalmente no jornal “A Voz do Operário”. Crónicas literárias.
Esta foi publicada em Março, em português escorreito, sem mácula. Esta é triste.

A Velha

Entrou. Passo miúdo e lento. Costas em arco, escondidas por baixo do tecido estampado de ramagens coloridas. Talvez a busca inconsciente da alegria. Pano do pó preso na mão flácida. Uma moldura de cabelos recém-cortados, a tentar dar um pouco de cuidado ao rosto de linhas vincadas. De olhar parado. Sem espera.
Então, D. Luísa… Havia uma ironia escondida nas vozes que se cruzavam no espaço largo, semeado de mesas e cadeiras.
- A velha voltou. Ali estava, de regresso. – Meteu baixa por causa da filha – segredava-se. Aquela filha que ninguém conhecia. Aquela filha doente que lhe ocupava o pensamento durante todas as horas que passava a trabalhar fora de casa. Aquela filha que, desde criança, era o seu maior cuidado. Que ia crescendo sem tino. Quantas vezes chegava a casa, não a encontrava e corria para a rua, a procurá-la, a trazê-la de volta.
- A senhora devia reformar-se. Tem quase sessenta anos. A ironia voltava. Não dava por isso. E os olhos concordavam. Porque já mal aguentavam as noites mal dormidas, cortadas pela inquietação. Os dias arrastando-se nas limpezas. Do chão. Dos móveis. Dos vidros das janelas. E o peso do corpo cada vez maior, que tornava os movimentos mais penosos. Mais difíceis. Claro que sonhava com a reforma. Sobretudo quando olhava para trás e recordava que começara a trabalhar ainda mal fizera dez anos. Ficara em casa, cuidando da sua menina para que nada de mal lhe acontecesse. Sem necessidade de inventar novos sítios para esconder os fósforos. As facas. Qualquer coisa que se pudesse transformar num perigo inconsciente. Sonhava com a reforma, sim. Mas não gostava que lhe dissessem que devia reformar-se. Cortava nas despesas o que podia. Até nos medicamentos, cada vez mais caros. Tal como a conta da electricidade, por mais que fosse diminuindo a força das lâmpadas. Tal como a parca comida que conseguia pôr na mesa. Diziam-lhe também, olhando para o seu corpo deformado, que devia fazer uma dieta.
Uma manhã, bastante cedo, uma vizinha que costumava ir à mesma hora que ela para o trabalho, notou-lhe a ausência. Bateu à porta. Uma, duas vezes.
Luísa estava deitada, sem conseguir fazer qualquer movimento com as pernas.
Alguém foi obrigado a separar os braços dela e da filha que se entrelaçavam desesperadamente.

Tuesday, July 08, 2008

João Abel Manta


Um cartoon "datado" de João Abel Manta, retirado dos Caminhos da Memória, um interessante projecto do movimento "Não Apaguem a Memória".

Sunday, July 06, 2008

Vasco Gonçalves e a estratégia do PCP



Na cronologia do PCP, há um dia e um acontecimento especialmente relevantes no Verão Quente: o Comité Central de 10 de Agosto em Alhandra. Aí Álvaro Cunhal, lança as bases de uma estratégia que incluía pontes de diálogo, à sua direita.
Socorro-me de um artigo de Armando Rafael, no DN, publicado a 10 de Outubro de 2005 – “Álvaro Cunhal salvou PCP afastando Vasco Gonçalves”. “A famosa reunião do Comité Central que o PCP efectuou em Alhandra, no dia 10 de Agosto” foi o “momento em que o secretário-geral dos comunistas impôs alguma contenção à euforia que se instalara depois do 11 de Março, antecipando, num discurso que permaneceu secreto [durante algum tempo], as linhas do acordo do 25 de Novembro”.
Depois de reler o artigo do Armando, uma eventual estratégia de aproximação aos aliados britânico e alemão de Mário Soares faz todo o sentido. O que – na estratégia das “simultâneas de xadrez”, expressão de um ex-dirigente comunista – não é obrigatoriamente contraditório com a tese de Josep Sanchez Cervelló ou da investigação do José Manuel Barroso, na década de 90 no DN, de que a ordem para a saída dos quartéis no 25 de Novembro partiu de militantes do PCP. E que acabou por resultar, além de vários dias de tensão e confrontação, num “reordenamento” das forças revolucionárias e a sobrevivência do PCP.


Álvaro Cunhal salvou PCP afastando Vasco Gonçalves


A história do PREC é razoavelmente omissa sobre uma famosa reunião do Comité Central que o PCP efectuou em Alhandra, no dia 10 de Agosto. Um momento em que o secretário-geral dos comunistas impôs alguma contenção à euforia que se instalara depois do 11 de Março, antecipando, num discurso que permaneceu secreto, as linhas do acordo do 25 de Novembro.

Quarenta e oito horas depois de o V Governo Provisório ter tomado posse, o PCP reuniu, discretamente, o seu Comité Central (CC) em Alhandra para ouvir Álvaro Cunhal alertar o partido para a forte possibilidade de Vasco Gonçalves poder ter os dias contados como primeiro-ministro.
Foi um discurso proferido a 10 de Agosto de 1975, recheado de improvisos que só viriam a ser integralmente conhecidos anos depois, e que caiu como um balde de água fria para quem não esperava ouvir o secretário-geral do PCP tirar o tapete a uma figura com a qual os comunistas tanto se identificavam.
Ao ponto de lhe terem prometido resistir a todas as ofensivas, garantindo total solidariedade - Força, força, companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço.
Um “slogan” mobilizador para quem se identificava com a governação e o estilo do Companheiro Vasco, mas que não resistia à análise fria dos dirigentes comunistas que se moviam nos bastidores do Processo Revolucionário em Curso (PREC). Como Álvaro Cunhal, Jaime Serra, Carlos Costa, Octávio Pato ou Carlos Brito.
Todos eles já tinham percebido que os comunistas e, em especial, a esquerda militar que lhes era afecta (gonçalvistas) não tinham, naquele momento, força suficiente para impor os seus pontos de vista, razão pela qual era necessário reformular a estratégia que estava a ser desenvolvida.
Mesmo que isso os obrigasse a fazer concessões ou a ter de retomar o diálogo perdido com o Grupo dos Nove (que, por sinal, divulgara o seu famoso documento nas vésperas de o PCP reunir o Comité Central). Ou com o PS (que acabara de fazer uma grande demonstração pública da sua força com o comício da Fonte Luminosa). Ou até com Otelo Saraiva de Carvalho, apesar do revés que a viagem do comandante do Copcon a Cuba evidenciara, contribuindo para o afastar ainda mais do PCP.
Improvisos. "Uma melhor clarificação da situação interna no MFA teria sido desejável antes da formação do novo governo como garantia para a sua eficiência", explicou Cunhal, num dos tais acrescentos que não constam do discurso oficial distribuído na altura.
"Aqui informo", prosseguiu, "que, depois da formação do Directório [Costa Gomes, Vasco Gonçalves e Otelo Saraiva de Carvalho], da discussão sobre a eventual participação de Otelo como vice-primeiro-ministro, de termos dado o nosso apoio à formação de um Governo sem participação partidária [o V Governo Provisório] (...), ao sabermos que Otelo se recusava a ser vice-primeiro-ministro, fizemos diligências imediatas, algumas junto do primeiro-ministro, para dizer que púnhamos muitas reservas à formação do novo governo e que (...) entendíamos que não devia ser formado, nem anunciado esse governo sem antes estar esclarecida a situação militar."
Uma preocupação que o próprio Álvaro Cunhal se encarregaria de explicitar mais à frente. "Tudo indicava que se formava o Governo num dia com o nosso apoio e a nossa participação para cair noutro dia. E a cair no outro porque não tinha qualquer apoio militar, não tinha qualquer possibilidade de fazer executar qualquer das suas decisões (..) Este governo formava-se e, contestado, caía em dois tempos. Por isso diligenciámos, e aqui está uma das tais iniciativas que muitas vezes a Comissão Política tem que tomar em situações novas e que não estão conforme com a perspectiva do Comité Central."
Para que não subsistissem dúvidas entre os elementos do Comité Central que o ouviam, e que eventualmente dele discordavam, o secretário-geral do PCP foi ainda mais longe na sua tese "Tomámos a responsabilidade de comunicar que não apoiávamos a constituição desse governo com Vasco Gonçalves, se na verdade não houvesse um apoio militar. Daí já termos afirmado que, a nosso ver, a solução encontrada não exclui possibilidades de recomposições, reajustamentos e reconsiderações que possam aumentar a eficiência do Governo e alargar a sua base de apoio social e política. Da parte da esquerda militar, sem exclusão de ninguém, vemos muito sectarismo. Não dá qualquer abertura e isso pode precipitar a sua queda.
Por isso esta solução governamental não pode ser rígida. Ao contrário. Devem procurar-se ajustamentos, devem procurar-se modificações que respondam à actual situação. A médio prazo as soluções podem ser outras."
Advertências. Como explicar, então, que Vasco Gonçalves tenha, apesar da reticências do PCP, tomado posse como primeiro-ministro de um governo que, à partida, todos sabiam estar já condenado?
Aparentemente, isso sucedeu porque era preciso ganhar tempo. Como o presidente da República, Costa Gomes, deixara já claro, no discurso da cerimónia de posse do V Governo Provisório, efectuada dois dias antes da reunião de Alhandra "A solução que hoje vos apresento é uma medida transitória, um governo de passagem que se espera seja a pausa política para, em clima de ordem, disciplina e trabalho, se poder constituir algo de mais definitivo."
Um sinal e uma mensagem devidamente articulada por Costa Gomes com os sectores moderados do MFA, com Otelo Saraiva de Carvalho, com o PS, mas também com o PCP e Álvaro Cunhal, que, assim, se preparavam para deixar cair Vasco Gonçalves como primeiro-ministro, esperando, no entanto, que o sacrifício do Companheiro Vasco como primeiro-ministro pudesse vir a ser ainda devidamente compensado pela sua nomeação para chefe do Estado-Maior-Ge- neral das Forças Armadas (CEMGFA). Onde iria substituir o próprio Costa Gomes, na sequência da mesma lógica que, alguns dias antes, levara já à constituição de um Directório que era suposto assumir-se como uma espécie de vanguarda da revolução.
PCP ausente. É isso que explica também as razões por que o PCP não permitiu, como Cunhal frisou em Alhandra, que o dirigente comunista Veiga de Oliveira tivesse continuado no Governo como ministro, situação que se aplicava igualmente ao líder comunista que integrou todos os executivos até ao IV Governo Provisório, embora isso não tenha sido mencionado. Um silêncio que lhe permitiu contornar ainda a presença de outros militantes do PCP no último executivo de Vasco Gonçalves, como Carlos Carvalhas ou Armando Teixeira da Silva, que constavam do elenco dos secretários de Estado.
Arrastamento. "Tomámos essa decisão", sublinhou, "para não nos comprometermos com uma solução muitíssimo incerta. E também para não nos arriscarmos a cair como força política com a queda do próprio governo formado por Vasco Gonçalves sem um apoio militar. (...) Pensámos, já nesse momento, guardar um campo de manobra política para o nosso partido, que não nos atrelasse necessariamente a uma previsível queda do Governo de Vasco Gonçalves (...) e nos desse margem para reconsiderar a composição do Governo e a sua própria chefia."
Uma referência, subtil, ao facto de o PCP estar também a posicionar-se já para influenciar o processo de designação de um novo primeiro-ministro e de um novo governo (do qual Veiga de Oliveira voltaria a fazer parte), que pudesse proteger o partido do desgaste provocado por Vasco Gonçalves, dando-lhe o tempo suficiente para que ele se reorganizasse. Tendo sempre em linha de conta a necessidade de reposicionar o partido perante as novas correlações de forças que começavam a impor-se.
"A divisão do MFA e a ofensiva da reacção são (...) muito perigosas e devemos por isso considerar as alternativas. Um dos males é que a esquerda militar sobrestima a sua força", alertou Cunhal, que não hesitaria igualmente em renovar as suas críticas ao sectarismo evidenciado pelos militantes comunistas que não dialogavam com elementos de outros partidos revolucionários e até com os militantes do PS.
Chile. Tudo porque o PCP temia que os exageros revolucionários da actuação dos governos e da retórica de Vasco Gonçalves pudessem acabar por pôr em causa o peso da esquerda militar no seio do MFA, arrastando o país para uma nova ditadura ou um regime autoritário que excluísse os comunistas, repetindo em Portugal aquilo que se verificara no Chile, onde o golpe militar liderado por Pinochet levara à perseguição e à eliminação sistemática dos comunistas e outros militantes de esquerda.
"Não nos devemos deixar encostar ao muro", advertiu Álvaro Cunhal em Alhandra. Não espanta, por isso, que o secretário-geral do PCP tivesse dedicado uma parte substancial do seu discurso perante o CC à análise da nova correlação de forças que começara a fazer-se sentir no seio do MFA, e que encorajou o Grupo dos Nove (com apoio e cumplicidade de Otelo Saraiva de Carvalho) a liderar a contestação aos gonçalvistas.
"A balança de forças não está nítida. Não está. Pode haver força bastante para ir para uma solução em que o poder político continua nas mãos da força militar de esquerda (...), mas pode admitir-se que a força não baste para manter uma tal situação. Seja com o risco de um golpe militar, com possibilidades reais de triunfo, seja com o risco do triunfo de operação política mesmo sem ter necessidade de um golpe militar mas com o apoio das forças armadas. Isto não está excluído e nas últimas semanas temos estado muitas vezes perto de situações que se nos afiguram aproximar-se duma tal situação em que possa haver um desequilíbrio de forças favorável à direita. (...) E quando digo à direita, não digo tanto a direita reaccionária (...), mas à direita do que tem sido até hoje uma parte do MFA, com o apoio político do PS e outros. Não é de excluir que possa haver um desequilíbrio nesse sentido."
Antecipação. Palavras premonitórias sobre a sucessão de acontecimentos que viriam a desembocar no 25 de Novembro, sem que o PCP tivesse conseguido implementar a nova estratégia que acabaria por ser ratificada no Comité Central de Alhandra. E que passava, no essencial, pelo retomar do diálogo com o Grupo de Nove.
Um objectivo que seria parcialmente atingido, como se constataria três meses depois, quando o PCP acabou por ser publicamente absolvido através de uma célebre declaração proferida por Melo Antunes na televisão.
Quanto ao resto, a proposta acabou por esbarrar na intransigência manifestada pelo PS, por Mário Soares e por Otelo Saraiva de Carvalho, o que levaria o PCP a atirar- -se (ainda que temporariamente) para os braços da extrema-esquerda, criando a Frente de Unidade Revolucionária (FUR), com a UDP, MES, PRP/BR, LUAR, LCI, MDP- -CDE e FSP, ou impulsionando os SUV (Soldados Unidos Vencerão). Sem que Álvaro Cunhal e a direcção do PCP conseguissem travar os ímpetos mais radicais de alguns dos seus compagnons de route, como os episódios em torno do 25 de Novembro viriam a demonstrar.
Queda. Mas, nessa altura, já Cunhal e o PCP tinham deixado cair Vasco Gonçalves e constatado o erro da aposta que os comunistas tinham feito em Pinheiro de Azevedo para o substituir.
Mas isso seria depois. Muito depois. Em pleno Verão Quente de 1975, a estratégia era bem diferente, como o sucessor de Vasco Gonçalves recordou, alguns anos depois, num livro de memórias que dedicou a esse período [ 25 de Novembro sem Máscara].
"O PC deixou de lhe dar cobertura (...).Vasco Gonçalves fora útil, mas estava a tornar-se prejudicial, com o seu extremismo desvairado, que poderia levar o país à guerra civil (...). Ora uma guerra civil não interessava a ninguém. Nem interna nem externamente. O PC, manifestamente, achou que Vasco Gonçalves já cumprira o seu papel."

Ver os originais em

http://dn.sapo.pt/2005/08/10/nacional/alvaro_cunhal_salvou_afastando_vasco.html

e

http://dn.sapo.pt/2005/08/10/nacional/simultaneas_xadrez_inspiram_no_prec.html

Cunhal, o PCP e o Verão Quente



Os acontecimentos políticos em Portugal, em Setembro de 1975, quando, segundo um telegrama arquivado nos National Archives (http://www.archives.org/) dos Estados Unidos, Álvaro Cunhal tentou ser convidado por Harold Wilson e Willy Brandt a visitar o Reino Unido e República Federal da Alemanha, permitem muitas conjecturas. E muitas especulações sobre a explicações possíveis para tal iniciativa. Cunhal estava a jogar em muitos tabuleiros, aliando-se a sectores mais radicais da esquerda – a FUR é um exemplo – ou, no pólo oposto, tentando estabelecer pontes com os moderados dos “grupo dos nove” ou os socialistas de Mário Soares. Era como se Cunhal jogasse uma “simultânea de xadrez” com os restantes personagens do Verão Quente.
(Foto de Rui Nogueira)


Fita do tempo, a partir de Julho de 1975:


8 Julho, o MFA divulga o Documento "Aliança POVO/MFA. Para a construção da sociedade socialista em Portugal.".


Em declarações à imprensa, 12 Julho, Henry Kissinger afirma: “Portugal está a ser a preocupação da América".


A 13 Julho, dá-se o assalto à sede do PCP em Rio Maior. Têm aqui início uma série de acções violentas contra as sedes de partidos e organizações políticas de esquerda, registadas por todo o país mas com maior intensidade no Norte e Centro. Esta onda de violência, associada às forças conservadoras, ficou conhecida por Verão Quente.

O PS de Mário Soares desencadeia grandes manifestações (a maior na Fonte Luminosa, em Lisboa, a 19 de Julho), abandonando o Governo em 16 de Julho. O PPD segue-lhe o exemplo.


A 27 Julho, fogem 88 agentes da ex-PIDE/DGS da prisão de Alcoentre.Três dias depois, a 30 Julho, é criado o “triunvirato” que passa a liderar o Conselho da Revolução - Costa Gomes (Presidente), Vasco Gonçalves (primeiro-ministro) e Otelo Saraiva de Carvalho (chefe do COPCON-Comando Operacional do Continente).


É anunciado, 7 Agosto, o Documento Melo Antunes, apoiado pelo Grupo dos Nove, de militares moderados do MFA, que se opõem às teses do Documento Guia Povo/MFA.
Toma posse, a 8 Agosto, o V Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.


A 10 Agosto, Melo Antunes e apoiantes do “grupo dos nove” são afastados do Conselho da Revolução.


Dois dias depois, é divulgado o "Documento do COPCON", em contraposição ao "Documento dos Nove", e reforçando a ideia de ser atribuído um papel político relevante às Assembleias Populares (poder popular).


A 30 de Agosto, Vasco Gonçalves, o “companheiro Vasco” e aliado (mais ou menos) tácito do PCP, já deixara de ser primeiro-ministro.


A 10 de Setembro, são “desviadas” 1.000 espingardas automáticas G3 das instalações do exército, em Beirolas.


No dia seguinte, no Porto, dá-se a manifestação dos SUV, que defendem o poder popular.


A 19 Setembro, dia em que o Departamento de Estado recebe o telegrama com a informação de que Wilson e Brandt optaram por não convidar Cunhal, toma posse o VI Governo Provisório, chefiado por Pinheiro de Azevedo.


Nos dias seguintes, a 21 e 22 Setembro, agudiza-se a luta política nas ruas: manifestação dos Deficientes das Forças Armadas com ocupação de portagens de acesso a Lisboa e tentativa de sequestro do Governo. As nacionalizações prosseguem.
(A foto deste "post" é estupenda e não quem é o autor. Quem souber, mande um e-mail, please)

Friday, July 04, 2008

O dia em Brandt e Wilson recusaram convite a Cunhal




A informação não deixa de ser surpreendente. E, apesar de Álvaro Cunhal, secretário-geral do PCP, não ser o meu objecto central de investigação, esta é a primeira vez que vejo uma referência a uma iniciativa inédita: a sugestão para o chanceler alemão, Willy Brand, e o primeiro-ministro britânico, Harold Wilson, o convidarem a visitar a Reública Federal da Alemanha (no tem em havia duas Alemanhas, incluindo a comunista, a RDA) e o Reino Unido. “Enquanto líderes dos partidos socialistas”.
A informação foi transmitida ao embaixador norte-americano em Bona pelo gabinete do líder socialista alemão, relatada depois para o Departamento de Estado em Washington a 19 de Setembro de 1975. E retransmitida para a representação diplomática dos EUA em Lisboa no dia seguinte, 20 de Setembro. A resposta é uma recusa… educada: “Ele [Schmidt] e Wilson estiveram em contacto e concordaram que deveria rejeitar educadamente a tentativa de Cunhal de ser convidado por ser inapropriado”.
A “historiografia” oficial do PCP, que eu saiba, é omissa quanto a esta notícia e não me lembro de ver qualquer referência em livros ou artigos sobre esta iniciativa “diplomática”.
Este telegrama abre a questão de saber porque motivo queria Cunhal ser recebido por Brandt e Wilson “enquanto líderes dos partidos socialistas”? Uma aproximação aos aliados europeus dos “moderados” – de Mário Soares - em plena convulsão revolucionária? Sendo verdadeira esta iniciativa de Cunhal, como interpretá-la? Aceitam-se ensaios de resposta.




Ver o telegrama no "site" dos National Archives (http://www.archives.org/)



SECRET
PAGE 01 BONN 15441 191731Z
42
ACTION SS-25
INFO OCT-01 ISO-00 SSO-00 NSCE-00 /026 W
--------------------- 040662
O 191720Z SEP 75
FM AMEMBASSY BONN
TO SECSTATE WASHDC IMMEDIATE 3028
S E C R E T BONN 15441
EXDIS
E.O. 11652: GDS
TAGS: PFOR, GW, US
SUBJECT: MEETING WITH WILLY BRANDT
REF: BONN 15262
1. WILLY BRANDT HAS PASSED ON ONE BIT OF ADDITIONAL INFORMATION
TO SUPPLEMENT THAT REPORTED IN REFTEL. HE
SAID THAT PCP LEADER CUNHAL HAD COMMUNICATED WITH HIM
AND PRIME MINISTER WILSON AS HEAD OF THE BRITISH LABOR
PARTY WITH A REQUEST THAT HE BE INVITED BY THEM IN THEIR
CAPACITY AS SOCIALIST PARTY LEADERS TO VISIT THE FRG AND
THE UK. HE AND WILSON HAVE BEEN IN TOUCH AND AGREED
THAT THEY WOULD POLITELY REJECT CUNHAL'S BID FOR AN INVITATION
AS INAPPROPRIATE.
HILLENBRAND
SECRET
NNN

Thursday, July 03, 2008

“Cunhal: Um Comunista Formidável”





Era o título da revista Time, na sua edição de 31 de Março de 1975, uma segunda-feira.
Com uma revolução em pleno gás em Portugal, a revista lembrava o percurso do líder histórico dos comunistas portugueses, então com 61 anos. E era descrito pelos seus olhos, o cabelo branco, a sua “jovial boa aparência”, “maneiras afáveis” e uma “fama lendária de dedicado comunista e opositor ao antigo regime”. “Ele tornou-se, provavelmente, no mais formidável político em Portugal”.
Apesar dos anos de clandestinidade, o “advogado brilhante” que conseguiu médias altíssimas, ainda que tenha concluído o curso na prisão tentava a todo o custo “aparecer como um moderado, advogando a liberdade de imprensa, partidos políticos livres e eleições”. Uma contradição com esta posição, segundo a Time, era Cunhal “insistir que se deveria acabar com o poder dos latifundiários e dos monopólios”.


(A imagem é de um "poster" de Maluda, retirado de http://maludablog.umnomundo.eu/. Outros personagens da história também têm "poster" no blog - Sá Carneiro, Mário Soares, Vasco Gonçalves...)

Ler o texto integral aqui ou na transcrição a seguir.

Monday, Mar. 31, 1975
Cunhal: A Formidable Communist
For much of the past four decades he has been in prison (14 years in all) or in exile. The rest of the time he lurked in a shadowy, hotly pursued underground movement. Even so, Alvaro Cunhal, 61, secretary-general of the Portuguese Communist Party, is surprisingly well known. A brilliant lawyer with blazing black eyes and a mane of thick silver hair, he returned from Eastern Europe to a tumultuous red-banner welcome only a few days after the April 1974 revolution that toppled the old right-wing dictatorship. Since then, with his debonair good looks, smooth manner and legendary reputation as a dedicated Communist opponent of the former regime, he has become probably the most formidable politician in Portugal.
Cunhal was born in the town of Se Nova, the son of an impecunious country lawyer. As a law student at Lisbon University, Cunhal received the highest grades ever recorded, even though he had to finish his studies from prison (he was jailed numerous times during that period for being a Communist). In 1935 he went to Moscow for the annual Communist International Youth Congress, where he impressed the party with his eloquent oratory. The following year he was sent to Madrid on a special mission during the first months of the Spanish Civil War. When he tried to slip back to Portugal, he was arrested and tortured. Out of prison after a year, he began his vida clandestina (life in hiding) that did not end until after the April revolution 38 years later.
Working clandestinely, he formed a nucleus of professional revolutionaries, creating a broader-based anti-Fascist movement, and organized strikes, set up an underground press and established relations with the international Communist movement. In 1949 he was caught and again imprisoned. When he managed to escape from the infamous Peniche prison in 1961, Cunhal had spent eight full years in solitary confinement.
"Where did I live after escaping?"
Cunhal asks rhetorically. "Many places. I was a gypsy. But I never ran away from Portugal." Western intelligence sources say that he spent much of that time in Prague. He was reportedly in the Czechoslovak capital in 1968 when the Russians invaded. He publicly came out in support of the invasion. Cunhal tries hard to look and sound like a moderate, advocating a free press, political parties and elections. But he insists that the power of the landowners and monopolies must be ended. Cunhal also says that all existing agreements, including ties with NATO and U.S. base arrangements, should be respected. But then, not so long ago he was saying that the Communist Party would not insist on nationalization either, and while he might bide his time on NATO, nobody expects him to do so indefinitely. Rumors persist that the Soviets are seeking refueling facilities in Madeira for their fishing fleet, a move which would hardly sit well with NATO.
A modest man who keeps his private life so quiet that no one even knows whether he is married. Cunhal attributes the party's success to tireless organization. In Path to Victory, published in 1964, he wrote: "Those who witness great struggles by the masses . . . many times imagine that they appear by magic, as a result of spontaneous indignation of the people or perhaps through emotional appeals. The truth is that only through careful organization can they succeed."