Sunday, October 10, 2010
Sunday, June 20, 2010
Spínola: a conversa que deixou Nixon proecupado com Portugal
Um era Richard Nixon. Vivia os dias do fim da sua Presidência, devastada pelo escândalo do Watergate. Outro, António de Spínola, estava há escassas seis semanas no poder num país à beira da revolução e em guerra mais ou menos surda com o Movimento das Forças Armadas (MFA) e Mário Soares por causa a descolonização, um dos três D prometidos pelos oficiais que derrubaram a ditadura de Salazar e Caetano a 25 de Abril.
O presidente da Junta de Salvação Nacional (JSN) apostou forte nesse breve encontro durante uma escala pelos Açores de Nixon e comitiva no regresso a Wasington, após uma visita ao Médio Oriente. Queria o apoio dos Estados Unidos ao seu modelo de descolonização a duas velocidades, bem diferente do que queriam Soares e os militares, cansados de 13 anos de guerra colonial. Em vão.
Nixon não quis comprometer-se. Numa fase em que a administração norte-americana ainda olhava a revolução portuguesa com expectativa, limitou-se a umas promessas mais ou menos genéricas de apoio.
Mas o frente-a-frente nessa manhã de 19 de Junho não foi tão inconsequente quanto isso. A verdade é que o conteúdo da conversa continua classificada nos arquivos norte-americanos – apesar de Spínola ter feito o seu relato no livro País sem Rumo. Passados 36 anos, das sete páginas do dossier sobre a cimeira apenas uma foi desclassificada. É um memorando de Brent Scowcroft. Mas, mesmo assim, há partes "apagadas".
Scowcroft, num memorando datado de 11 de Julho para Henry Kissinger, o todo-poderoso secretário de Estado, escrevia que em anexo apresentava o que julgava ser uma "pobre versão" da reunião entre os presidente norte-americano e português. A pedido de Spínola, o conselheiro de segurança lembrava que fora a dois, "dado que não confiava em ninguém que o acompanhava". O presidente da Junta fora aos Açores acompanhado pelo ministro Sá Carneiro.
O presidente da Junta de Salvação Nacional (JSN) apostou forte nesse breve encontro durante uma escala pelos Açores de Nixon e comitiva no regresso a Wasington, após uma visita ao Médio Oriente. Queria o apoio dos Estados Unidos ao seu modelo de descolonização a duas velocidades, bem diferente do que queriam Soares e os militares, cansados de 13 anos de guerra colonial. Em vão.
Nixon não quis comprometer-se. Numa fase em que a administração norte-americana ainda olhava a revolução portuguesa com expectativa, limitou-se a umas promessas mais ou menos genéricas de apoio.
Mas o frente-a-frente nessa manhã de 19 de Junho não foi tão inconsequente quanto isso. A verdade é que o conteúdo da conversa continua classificada nos arquivos norte-americanos – apesar de Spínola ter feito o seu relato no livro País sem Rumo. Passados 36 anos, das sete páginas do dossier sobre a cimeira apenas uma foi desclassificada. É um memorando de Brent Scowcroft. Mas, mesmo assim, há partes "apagadas".
Scowcroft, num memorando datado de 11 de Julho para Henry Kissinger, o todo-poderoso secretário de Estado, escrevia que em anexo apresentava o que julgava ser uma "pobre versão" da reunião entre os presidente norte-americano e português. A pedido de Spínola, o conselheiro de segurança lembrava que fora a dois, "dado que não confiava em ninguém que o acompanhava". O presidente da Junta fora aos Açores acompanhado pelo ministro Sá Carneiro.
"O Presidente [Nixon] ficou preocupado com o que Spínola lhe disse". Daí ter pedido que "apenas fosse enviado apenas a si, a [Alexander] Haig e a mim". Além disso, ordenou duas "acções", em dois pontos. A primeira não se sabe qual (foi "apagado"). A segunda é sobre os receios com "os comunistas" em Portugal e em África, para o qual o ex-comandante da Guiné alertou o presidente dos Estados Unidos. Daí que Nixon tenha pedido ao embaixador Tasca, que esteve colocado em Atenas e "aparentemente o Presidente considerava um especialista mundial em subversão" para fazer uma análise sobre "a actual ameaça da subversão comunista".
Numa frase: Richard Nixon foi sensível à versão da ameaça vermelha feita por Spínola. Não se podendo relacionar directamente, a verdade é que em Julho surgiram as primeiras declarações mais preocupadas de Kissinger sobre a revolução portuguesa. Quando disse, a 12 de Julho, que "Portugal está a ser a preocupação da América".
Afinal, desde Maio, do I Governo Provisório, que o país tinha dois ministros comunistas, o líder histórico do PCP Álvaro Cunhal e Avelino Gonçalves - uma "ameaça" que Washington não se cansou de combater nos meses seguintes até ao 25 de Novembro.
Mas nessa altura, apesar de a revolução dos Cravos estugar o passo e Spínola ainda era visto pelo velho aliado como um homem de confiança à frente do Governo, ao contrário do que aconteceu no Verão Quente de 1975, quando o velho general tinha caído em desgraça aos olhos de Washington. Provas de alguma confiança deu - pelo menos formalmente - o presidente norte-americana numa reunião, a 30 de Julho, poucos dias antes de resignar, com o secretário do Tesouro, Kenneth Rush, conselheiro do Presidente, e Brent Scowcroft. Uma ideia corroborada por Witney Schneidman, no seu livro Confronto em África: Washington e a Queda do Império Colonial Português. Os Estados Unidos ainda tinham o seu general de confiança...
"Spínola é bom... O problema é que os comunistas são as únicas forças organizadas em Portugal", comentou Nixon quando falava da situação política na Europa. Franco, em Espanha, estava a morrer. "E depois? Quem sabe?". Se a Espanha "cair" fora do controlo do Ocidente (e tiver um Governo “comunista”, entenda-se), depois é a Itália, antevia ele, lembrando a posição da Grécia e do Turquia no chamado Flanco Sul, onde os EUA até tinham bases militares que serviam a NATO.
Mas nessa altura, apesar de a revolução dos Cravos estugar o passo e Spínola ainda era visto pelo velho aliado como um homem de confiança à frente do Governo, ao contrário do que aconteceu no Verão Quente de 1975, quando o velho general tinha caído em desgraça aos olhos de Washington. Provas de alguma confiança deu - pelo menos formalmente - o presidente norte-americana numa reunião, a 30 de Julho, poucos dias antes de resignar, com o secretário do Tesouro, Kenneth Rush, conselheiro do Presidente, e Brent Scowcroft. Uma ideia corroborada por Witney Schneidman, no seu livro Confronto em África: Washington e a Queda do Império Colonial Português. Os Estados Unidos ainda tinham o seu general de confiança...
"Spínola é bom... O problema é que os comunistas são as únicas forças organizadas em Portugal", comentou Nixon quando falava da situação política na Europa. Franco, em Espanha, estava a morrer. "E depois? Quem sabe?". Se a Espanha "cair" fora do controlo do Ocidente (e tiver um Governo “comunista”, entenda-se), depois é a Itália, antevia ele, lembrando a posição da Grécia e do Turquia no chamado Flanco Sul, onde os EUA até tinham bases militares que serviam a NATO.
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