Saturday, May 11, 2013

Até os telefones dos americanos falharam...




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25 de Abril: o dia em que os telefones americanos falharam

Embaixada dos EUA não percebeu logo o que se estava a passar com o golpe, com o obstáculo adicional das comunicações para Washington não funcionarem

Por: tvi24 / AR    |   2013-04-25 08:00
A Embaixada dos EUA teve dificuldades em perceber o que se estava a passar com o golpe de 25 de abril de 1974 em Portugal e teve um obstáculo adicional: os telefones não funcionaram de Lisboa para Washington.

De acordo com a Lusa, das comunicações entre a representação diplomática norte-americana em Lisboa e o Departamento de Estado, depositadas nos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos, percebe-se a cautela com que a diplomacia encarou o golpe de Estado do Movimento das Forças Armadas (MFA). Mas fica, também, um registo insólito: os telefones falharam no dia em que caiu a ditadura em Portugal, precisamente ao fim da tarde, à hora a que o chefe do Governo, Marcelo Caetano, se rendeu no Largo do Carmo, em Lisboa, entre as 18:00 e as 19:00.

Falhadas as ligações telefónicas, restavam o telégrafo e os telegramas. Desde Lisboa, os diplomatas enviaram pelo menos dois telegramas, pedindo que lhes telefonassem «imediatamente» desde Washington. E até davam os números da embaixada (555141 ou 555149).

Logo pela manhã, quando o desfecho do golpe era desconhecido, o registo dos diplomatas norte-americanos em Lisboa, mas também nos Açores, onde dos EUA têm uma base, nas Lajes, era cauteloso.

«Está tudo tranquilo», lia-se num telegrama do Consulado em Ponta Delgada enviado para Washington às primeiras horas do dia em que o Movimento das Forças Armadas derrubou a ditadura, e que está depositado nos Arquivos Nacionais .

De Lisboa, o primeiro telegrama, com o mesmo título, «Distúrbios em Portugal», surge pelas 09:50. A mensagem fazia uma mera descrição do que estava a passar-se: tanques nas ruas de Lisboa, sedes de ministérios cercadas pelos militares, o relato dos apelos à calma, feitos pelo MFA através da rádio.

De acordo com vários ensaios históricos, a diplomacia norte-americana desconhecia, em profundidade, as movimentações dos militares para derrubar o Governo de Caetano e pôr fim à guerra colonial em África, fazer eleições livres e democratizar o país.

Os analistas norte-americanos chegaram a atribuir o golpe de Estado a militares ligados ao general António de Spínola e não ao Movimento das Forças Armadas (MFA). Pelo que os primeiros telegramas são vagos quanto à autoria do golpe.

Às 14:37, a preocupação da representação diplomática era comunicar a Washington que não havia motivos para crer que o golpe iria colocar em perigo «vidas e propriedades» de norte-americanos em Portugal.

Ainda assim, a embaixada estava a aconselhar os turistas norte-americanos em Lisboa a permanecerem nos hotéis «até que a situação se clarifique».

No final do dia do golpe, e numa altura em que Caetano já se rendera ao MFA, o Departamento de Estado dos EUA enviou então às representações a primeira posição formal de Washington quanto ao golpe, instruindo os embaixadores sobre o que poderiam dizer.

E o que poderiam dizer era muito pouco: a embaixada em Lisboa estava a acompanhar a situação, os turistas norte-americanos foram aconselhados a não ir para as ruas e que a base das Lajes, nos Açores, não fora afetada.

Num mundo ainda dividido em dois blocos, Estados Unidos e União Soviética, e a viver uma Guerra Fria, a diplomacia norte-americana, apesar das dúvidas iniciais, apoiou depois ativamente o PS de Mário Soares e o grupo dos «moderados» dentro do MFA, contra a ala esquerdista e o PCP de Álvaro Cunhal.

O secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, chegou a dar Portugal como um caso perdido para os comunistas, em 1975. Mas depois Kissinger acabou por apoiar os «moderados» e contribuir ativamente para a queda do Governo de Vasco Gonçalves, apoiado pelo PCP.

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