Thursday, November 13, 2008

Colóquio na Fundação Soares (ii): a notícia do DN

Frank Carlucci parecia "um típico mafioso italiano"
JOÃO PEDRO HENRIQUES
Debate. Mário Soares voltou a elogiar ex-embaixador dos EUA"O PREC visto da América" discutido ontem na fundação do ex-presidente

O pretexto foi o livro Portugal Classificado - Documentos Secretos Norte-Americanos 1974 -1975 (editora Alêtheia), do jornalista Nuno Simas, da Agência Lusa. Na sua fundação, Mário Soares moderou um debate sobre "O PREC visto da América", convidando José Medeiros Ferreira (ex-ministro dos Negócios Estrangeiros) e Carlos Brito (dissidente do PCP mas em 1974/1975 um dos principais dirigentes comunistas).Com exemplos concretos da pequena história do período revolucionário, Mário Soares voltou a demonstrar a sua empatia por Frank Carlucci, que no Outono de 1974 chegou a Portugal como embaixador dos EUA. "Um tipo pequenino, vivo. Um típico mafioso italiano!", contou, recordando o momento em que se conheceram. Carlucci chegou a Portugal com Otelo Saraiva de Carvalho (na altura um importante chefe militar e figura de topo na extrema-esquerda castrense) dizendo publicamente que não lhe podia garantir a segurança dada a fúria popular contra o "imperialismo" norte-americano. Costa Gomes, então Presidente da República, pediu a Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros, que assegurasse a Carlucci que nada lhe aconteceria. E aí a supresa: quando Carlucci chegou ao MNE e Soares lhe falou de Otelo, o embaixador revelou que já tinham almoçado com o militar. "Já o tinha metido no bolso! E acabaram a jogar ténis!", contou o fundador do PS, fascinado com a desenvoltura diplomática de Carlucci.Soares disse que os EUA "não tiveram tanta importância como se julga" no o processo revolucionário português. Os países que "ajudaram" à democratização foram a Alemanha, os nórdicos, os italianos e "sobretudo os ingleses". Medeiros Ferreira de certa forma corroborou esta tese afirmando que nos EUA havia "vários centros de poder" e "várias formas de pensar", destacando, por exemplo, que a descolonização "nunca teve no centro das preocupações norte-americanas". E até Carlos Brito admitiu que, apesar das "interferências" dos EUA e da sua "grande arrogância", "não foram os americanos a derrotar a aliança Povo-MFA" (entre o PCP, sectores das Forças Armadas, sindicatos e protagonistas da Reforma Agrária). "Foram os moderados das Forças Armadas, o PS, a Igreja Católica, toda a direita."Mário Soares reafirmou que "havia um projecto do PCP para tomar o poder". Medeiros Ferreira sublinhou, pelo seu lado, um aspecto "admirável" do 25 de Abril: "Portugal dotou-se de um regime democrático sozinho." Ou seja, fora de qualquer processo de democratização na Europa, como os que ocorreram logo após a II Guerra ou, nos anos 90, com a queda do Muro de Berlim.

Colóquio na Fundação Soares (i): a notícia da Lusa

A notícia da Lusa retirada do sapo.pt:

PREC: Ex-PCP Carlos Brito responsabiliza EUA por "derrota" de Aliança Povo-MFA
12 de Novembro de 2008, 23:38
Lisboa, 12 Nov (Lusa) - O ex-militante comunista Carlos Brito responsabilizou hoje os Estados Unidos pela "derrota" do "projecto de Aliança Povo-Movimento das Forças Armadas (MFA)" durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), apontando a "obsessão" dos norte-americanos contra os comunistas.
Carlos Brito falava, na Fundação Mário Soares, em Lisboa, no colóquio "O PREC visto da América", a partir do livro "Portugal Classificado - Documentos Secretos Norte-Americanos 1974-1975", da autoria do jornalista da Agência Lusa Nuno Simas.
O ex-dirigente do PCP defendeu que - a par, em Portugal, da Esquerda "moderada", incluindo o Partido Socialista, da Direita e da Igreja - a "ingerência americana derrotou o projecto de Aliança Povo-MFA", que preconizava uma "economia largamente estatizada" e era sustentado pela "Esquerda Unitária, Partido Comunista, movimento sindical".
Carlos Brito apontou a "obsessão" e a "cruzada" dos Estados Unidos "contra os comunistas", alegando que os norte-americanos temiam que o regime comunista se estendesse a outros países europeus, como Espanha, Itália e Grécia, e pudesse causar "fragilidade na NATO".
O ex-comunista invocou também a "grande arrogância, por vezes insultuosa", dos dirigentes norte-americanos para com "os seus interlocutores" portugueses, nomeadamente com os então Presidente da República Costa Gomes, primeiro-ministro Vasco Gonçalves e ministro dos Negócios Estrangeiros Mário Soares.
"Estivemos em vários momentos à beira de um precipício", declarou Carlos Brito, defendendo que os norte-americanos chegaram a instar Espanha a invadir Portugal ou que houvesse uma Guerra Civil no País.
Hoje, o antigo militante do PCP reconhece que "todos", comunistas e socialistas, são responsáveis pela "sobreposição do poder económico ao poder político" e pelas "desigualdades sociais" em Portugal.
"Fomos todos culpados: os vencidos do 25 de Novembro [de 1975, numa referência aos comunistas]... que puxámos demasido a corda e os vencedores [socialistas]... que a têm deixado encurtar tanto", afirmou.
Por outro lado, para Carlos Brito, a Cimeira dos Açores, que levou à Guerra no Iraque, e a polémica dos voos de prisioneiros da CIA são uma "exuberante demonstração" de como os Estados Unidos continuam a influenciar Portugal.
Também presente no colóquio, o deputado do PS e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do I Governo Constitucional (1976-78) Medeiros Ferreira sustentou, contrariando a intromissão norte-americana aludida por Carlos Brito, que "os novos apoios" do Exterior, incluindo dos EUA, "não foram necessários" ao País, que, "pelos seus próprios meios", impôs, em 1974-75, uma "democracia pluralista".
Medeiros Ferreira afiançou, inclusive, que Henry Kissinger, secretário de Estado do presidente norte-americano Ricard Nixon, "esteve à espera", até Setembro de 1975, "que os militares resolvessem a situação" de instabilidade que se viveu em Portugal durante o PREC (sobretudo entre Março e Novembro de 1975).
Mário Soares, que foi ministro dos Negócios Estrangeiros entre Maio de 1974 e Março de 1975, reforçou, em declarações aos jornalistas no final do colóquio, que nem os Estados Unidos nem a União Soviética sabiam do Processo Revolucionário em Curso, tendo a "ingerência" manifestado-se "a posteriori" quando ambos os países quiseram obter informações.
Referindo-se ao "projecto de Aliança Povo-MFA", o histórico socialista manifestou a sua convicção, à época, de que se tratava de "um projecto para o Partido Comunista tomar conta do Poder".
"Quem nos ajudou [Portugal, no período revolucionário] realmente foram os alemães, italianos, nórdicos e, sobretudo, os ingleses", defendeu no colóquio, sublinhando aos jornalistas que alguns norte-americanos "pensavam que era possível impedir os comunistas pela via militar".
"Mas os americanos não tiveram a importância que se pensava que tivessem tido ou que pudessem vir a ter", defendeu Mário Soares na sua intervenção enquanto moderador.
O jornalista Nuno Simas revelou-se surpreendido com a "crueza da linguagem" da troca de correspondência entre Portugal e Estados Unidos e com o "olhar distorcido" dos norte-americanos, que viam Portugal como "um país à beira de uma nova revolução russa", imagem que, invocou, Mário Soares e o antigo embaixador dos EUA em Lisboa Frank Carlucci procuraram inverter.
O autor de "Portugal Classificado - Documentos Secretos Norte-Americanos 1974-1975", cuja pesquisa durou sete anos, considerou "arrepiante quão perto" o País esteve do "abismo", no período revolucionário, ao ponto de os Estados Unidos quererem, em Setembro de 1975, distribuir armas ao PS, o que foi "travado" pelo então secretário de Estado Henry Kissinger.
ER.
Lusa/Fim

Tuesday, November 11, 2008

Thursday, November 06, 2008

Chefe do Governo de Franco admitiu intervenção militar em Portugal em 1975
04.11.2008, Alexandra Prado Coelho
A revelação feita ontem pelo diário espanhol El País baseia-se em documentos do Departamento de Estado norte-americano recentemente desclassificados

Documentos do Departamento de Estado norte-americano, recentemente desclassificados, revelam que Carlos Arias Navarro, último chefe do Governo de Franco, declarou aos norte-americanos que a Espanha estava disponível para uma intervenção armada em Portugal, em 1975, para travar o comunismo, revelou ontem o El País. Segundo os documentos a que o diário espanhol teve acesso através dos Arquivos Nacionais dos EUA, Arias manifestou as suas preocupações ao então vice-secretário de Estado norte-americano, Robert Ingersoll, durante um encontro em Jerusalém em Março de 1975. Ingersoll escreveu então ao secretário de Estado Henry Kissinger, fazendo eco das palavras do político espanhol: "Portugal é uma séria ameaça para Espanha, não só pelo desenvolvimento que está a ter a situação, como pelo apoio exterior que podia obter e que seria hostil a Es-panha". E acrescenta: "Espanha estaria disposta a travar o combate anticomunista, sozinha se necessário. É um país forte e próspero. Não quer pedir ajuda. Mas acredita que terá a cooperação e a compreensão dos seus amigos [...]". Ou seja, Arias esperava que os Estados Unidos manifestassem de forma clara o seu apoio a uma eventual intervenção, de acordo com as revelações feitas pelo El País, num artigo intitulado Arias queria ir para a guerra com Portugal. Estes papéis constituem "o primei-ro registo documental dessa intenção", diz Nuno Simas, autor do recentemente editado Portugal Classificado - Documentos Secretos Norte-Americanos 1974-1975. "Havia indicações nesse sentido de Paradela de Abreu [o editor de Portugal e o Futuro, o livro do general Spínola] e do antigo embaixador português em Madrid, Fernando Reino. Mas provas documentais não existiam". Em declarações aos jornalistas em Madrid em 1994, reproduzidas pela agência noticiosa Lusa, Fernando Reino contou uma versão um pouco diferente da história, dizendo que foram os EUA que sugeriram a Espanha a hipótese de invadir Portugal durante a crise provocada pelo assalto à embaixada espanhola em 1975. Segundo o antigo embaixador, "nessa altura houve um conselho de ministros em Espanha em que se discutiu o assunto e havia duas alas, uma que defendia a intervenção e a outra não". "Precauções apropriadas"Fernando Reino acrescentou ainda que, de acordo com as informações de que dispunha, teria sido o próprio Franco a decidir pela não intervenção em Portugal. Questionado pela agência Lusa sobre as fontes em que se baseava, explicou apenas que se tratava de "testemunhos vivos". Tiago Moreira de Sá que, juntamente com Bernardino Gomes, acaba de lançar Carlucci vs. Kissinger - Os EUA e a Revolução Portuguesa, também cita as declarações de Fernando Reino (que optou por não usar no seu livro por não terem confirmação de outras fontes), mas, de resto, diz que "todas as indicações apontavam no sentido inverso, para uma grande moderação da posição espanhola". Refere, em especial, uma conversa que o general Francisco Franco manteve com o Presidente norte-americano Gerald Ford (ver caixa) e com Kissinger, na qual Ford pergunta "Os moderados podem triunfar em Portugal?", e Franco responde: "Temos que deixar a revolução seguir o seu curso. A situação ainda não é muito clara. A situação económica vai seguramente deteriorar-se. Qualquer intervenção estrangeira seria prejudicial para os moderados, porque uniria os portugueses contra quem os atacasse". Os documentos citados pelo El País adiantam mais sobre o encontro entre Arias e Ingersoll, que aconteceu em Março, o mês do golpe militar falhado lançado por Spínola. O chefe do Governo espanhol terá dito ao "número dois" do Departamento de Estado que estavam a ser tomadas "precauções apropriadas" para impedir que "o que está a suceder em Portugal se estenda para o outro lado da fronteira espanhola". No seu telegrama para Kissinger, Ingersoll explica que Arias "está convencido de que a Espanha deve democratizar-se e abrir as suas portas a uma maior participação política popular", mas a experiência do general Spínola convenceu-o de que "não devemos subir nem descer uma colina demasiado depressa".Campainhas de alarmeO historiador Luís Nuno Rodrigues, especialista nas relações luso-americanas, confirma que estes documentos não eram conhecidos até agora, mas aconselha prudência na leitura do seu conteúdo. As declarações de Arias "são proferidas num contexto de negociações para a continuação das bases norte-americanas em Espanha e são momentos geralmente tensos, em que pode haver uma certa radicalização da linguagem". Sublinhando que não pode tirar con-clusões a partir daqueles excertos, considera, no entanto, "compreensível que a Espanha quisesse fazer soar as campainhas de alarme" relativamente à situação em Portugal, sobretudo depois do 11 de Março e do golpe falhado de Spínola. Mas lembra que "o combate anticomunista" podia ser feito por outros meios que não a intervenção militar - nomeadamente o apoio a estruturas de extrema-direita como o Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP, de Spínola) e o Exército de Libertação Português (ELP), que "beneficiaram de algumas facilidades de organização de circulação em território espanhol".Prudente é também a leitura feita pelo historiador António Costa Pin-to, especialista no Estado Novo: "Em 1975, Portugal já está sob grande escrutínio da Administração norte-americana, e seria impensável qualquer acção unilateral da parte de Espanha". Admite, por isso, que uma mensagem como a de Arias "não seja para tomar à letra", mas constitua um alerta aos EUA. Até porque, a poucos meses da morte de Franco (em Dezembro de 1975) "a ditadura espanhola não estava para aventureirismos desse género". O secretário de Estado Henry Kissinger terá participado num encontro com Franco sobre a situação em Portugal em 1975.

A notícia do DN

Espanha admitiu declarar guerra a Portugal depois do 25 de Abril
SUSETE FRANCISCO
Verão Quente. Transcrição de conversas com diplomatas americanos revela ameaça

O último líder do governo de Franco, Carlos Arias Navarro, admitiu entrar em guerra com Portugal, em 1975, para travar o avanço do comunismo. A revelação consta de documentos, ontem divulgados pelo jornal El País, nos quais são relatadas conversas entre o chefe do governo franquista e diplomatas norte-americanos. Os relatórios integram os Arquivos Nacionais, em Washington. É a primeira vez que a hipótese de um ataque de Espanha a Portugal, na sequência da revolução de 74, surge citada num documento.De acordo com o diário espanhol, Carlos Arias Navarro informou em privado os Estados Unidos de que Espanha estava disposta a avançar para uma guerra. Segundo o relato escrito pelos diplomatas norte-americanos, o líder do governo de Franco manifestava uma "profunda preocupação" com os acontecimentos em Portugal, e pretendia que os EUA garantissem o apoio a Madrid em caso de conflito armado na Península.Estava-se então em Março de 1975, já após a tentativa do golpe spinolista do 11 de Março em Portugal - ao qual Arias se terá referido como o "último acto insensato de Spínola". Neste mesmo mês, a evolução política portuguesa foi discutida num encontro entre Arias e Robert Ingersoll (à data vice-secretário de Estado norte-americano) que decorreu em Jerusalém. Num relatório deste encontro dirigido ao secretário de Estado Henry Kissinger, Ingersoll escreve que "Portugal é uma séria ameaça a Espanha, não só pelo desenvolvimento da situação [política], mas sobretudo pelo apoio exterior que poderia obter e que seria hostil a Espanha". Afirmando que Arias estava "profundamente inquieto" com o que se passava, Ingersoll traduz assim o pensamento do político espanhol: "Espanha estaria disposta a travar o combate anticomunista sozinha, se necessário. É um país forte e próspero. Não quer pedir ajuda. Mas confia que terá a cooperação e a comprensão dos seus amigos, não só no interesse de Espanha, mas de todos os que pensam da mesma forma."No mesmo encontro, Arias garantiu ter tomado as "precauções apropriadas" para impedir que o que se passava em Portugal se estendesse ao outro lado da fronteira. Um mês depois, já num encontro com o senador Hugh Scott, o chefe do governo espanhol voltava a afastar esse cenário, argumentando que Espanha tinha mais liberdade, mais crescimento económico e que as forças armadas não tinham sofrido a "tensão de uma guerra colonial". A 28 de Maio é a vez do embaixador Wells Stabler informar: "Com a larga fronteira com Portugal, seria difícil a Espanha proteger-se de uma acção subversiva portuguesa." As conversas entre Carlos Arias Navarro e os responsáveis norte- -americanos decorrem num contexto de tensão nas relações entre os dois países - os Estados Unidos queriam renegociar a continuidade de várias bases militares em território espanhol, enquanto a Espanha de Franco procurava apoio internacional para entrar na NATO. É neste âmbito que Arias se queixa dos países europeus, apontando a incongruência da sua atitude face à "total anarquia que impera em Portugal, a cair num domínio completo dos comunistas, e a que têm face a Espanha, um bastião contra a expansão comunista".

Monday, November 03, 2008

Espanha preparou a guerra contra Portugal em 1975










Aquilo que era uma tese, por exemplo, de Paradela de Abreu, teve hoje confirmação oficial~.
O El Pais revela documentos dos arquivos norte-americanos em que Árias Navarro garantia que Espanha invadiria Portugal para evitar que o país se tornasse comunista.

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Ler aqui um texto da Lusa

Espanha disse aos EUA em 1975 estar preparada para atacar Portugal

O último presidente do Governo franquista, Carlos Árias Navarro, afirmou em 1975 aos EUA que Espanha estava preparada para entrar em guerra com Portugal «para evitar que o comunismo se espalhasse», revela o jornal El Pais.
Na sua edição de hoje, o jornal refere que essa ameaça está nos registos de conversas entre diplomatas e governantes de Espanha e dos Estados Unidos, a seguir à tentativa do golpe spinolista de 11 de Março em Portugal.
El Pais refere que Árias «exprimia a sua profunda preocupação» pela transição para a democracia em Portugal e que queria o apoio de Washington caso ocorresse um conflito bélico.
«Tratava-se de um momento crucial nas relações entre os dois países, porque os Estados Unidos desejavam renegociar o aluguer das bases militares e Árias queria que Washington apoiasse a entrada de Espanha na NATO», escreve o jornal.
A análise feita pelo diário espanhol baseia-se em documentos obtidos nos Arquivos Nacionais em Washington que reproduzem as observações dos Estados Unidos nos últimos anos antes da morte de Franco.
Segundo esses documentos, a situação em Portugal foi um dos temas dominantes da reunião que Árias Navarro manteve com o vice-secretário de Estado norte-americano, Robert Ingersolll, em Jerusalém, em Março de 1975.
Nesse encontro, Árias manifestou a sua preocupação sobre os acontecimentos em Portugal devido ao que o presidente do Governo classificou como «o último acto insensato de Spínola».
«Portugal é uma séria ameaça para Espanha, não apenas pelo desenvolvimento que está a ter a situação, mas pelo apoio exterior que poderia ter e que seria hostil a Espanha», escreveu Ingersoll a 18 de Março, numa mensagem para Henry Kissinger, então secretário de Estado.
«A Espanha estaria disposta a travar o combate anticomunista sozinha, se for necessário. É um país forte e próspero. Não quer pedir ajuda. Mas confia que terá a cooperação e a compreensão dos seus amigos, não apenas no interesse de Espanha, mas no interesse de todos os que pensam assim», escreveu.
Árias terá explicado aos americanos estar a tomar «as precauções devidas» para que «os acontecimentos de Portugal não se estendam ao outro lado da fronteira».
«Está convencido de que a Espanha deve democratizar-se e abrir as suas portas a uma maior participação política popular. Mas a experiência de Spínola convenceu-o de uma coisa: não há que subir e descer uma colina demasiado depressa», escreve.
A preocupação de Árias voltou a ser repetida num encontro a 07 de Abril de 1975 com o senador republicano Hugh Scott, a quem prometeu que a Espanha não repetiria o que aconteceu em Portugal.
Como argumentos para justificar essa posição explicava que em Espanha há «mais liberdades», mais crescimento económico e maior distribuição da riqueza, além de que as forças armadas espanholas não tinham «sofrido a tensão da uma guerra colonial».
«Árias disse que o exército espanhol conhece os perigos do comunismo pela experiência da Guerra Civil e está totalmente unido», dizia o embaixador norte-americano, Wells Stable, numa mensagem enviada para Washington a 09 de Abril de 1975.