EUA/Portugal: Norte-americanos
aprovaram primeiro plano de operações clandestinas em 1974
O Departamento de Estado
e os serviços secretos norte-americanos aprovaram o seu primeiro plano de
operações clandestinas para Portugal a 27 de setembro de 1974, para “evitar a
tomada do poder pelos comunistas”.
Esta é a primeira vez
que, 40 anos depois da revolução portuguesa, o Departamento de Estado
norte-americano revelou, ainda que parcialmente, documentos e parte dos debates
“on the record” no Comité dos 40, organismo que supervisionava operações
clandestinas e incluía os serviços secretos, a CIA.
Grande parte de nomes de
personalidades políticas, partidos e organizações portuguesas envolvidas nas
operações, que nunca são descritas ao pormenor, continuam a ser segredo por
questões de segurança e foram apagados na versão agora “desclassificada”.
O lote de documentos é
grande e foi publicado no volume do departamento histórico do Departamento de
Estado sobre a política externa norte-americana, referente aos anos de 1969-1977
(Foreign Relations of the United States – Volume E-15, part II).
A primeira proposta de
“operações políticas” do Comité dos 40 tem a data de 27 de setembro, um dia
antes da frustrada manifestação da maioria silenciosa de 28 de setembro,
inspirada por António de Spínola, primeiro presidente após o golpe do Movimento
das Forças Armadas (MFA), e que antecipou a sua demissão, a 30 de setembro.
Esta proposta inicial
incluía planos específicos, não revelados ainda hoje, para a campanha das
primeiras eleições livres para a Assembleia Constituinte, mas também ações para
influenciar os militares do MFA.
A demissão de Spínola, em
que alertou para novas formas de totalitarismo, e o ascendente das forças de
esquerda levou Kissinger a concluir que havia agora uma “coordenação estreita”
entre o MFA e os comunistas.
Num memorando de outubro
de 1974 destinado a Kissinger, fala-se em “fortalecer o PS” e em ajudar a
“desenvolver um partido centrista que atuasse em coligação com os socialistas
para derrotar o PCP”.
Mas é a 20 de janeiro de
1975 que a administração de Gerald Ford, numa reunião, decidiu avançar com um
renovado plano de operações clandestinas para Portugal - “quer haja ou não
fugas de informação”, nas palavras do presidente Gerald Ford.
Henry Kissinger chegou a
defender que a CIA devia “infiltrar” o MFA e lembrou que ter defendido um
“plano de ações clandestinas massivo” desde há meses.
Em março, um memorando de
ações do Comité dos 40 foi chumbado pelo Departamento de Estado pelo risco de
fugas de informação para os jornais.
Uma das ações passava por
canalizar fundos para os partidos “não comunistas” portugueses por parte dos
aliados europeus, incluindo verbas da CIA, mas também “expor as atividades
subversivas” do PCP.
E é já depois das
eleições para a Constituinte de 25 de abril de 1975, ganhas pelo PS e em que o
PCP recolheu 12% dos votos, que o Comité dos 40 faz mais um documento a propor
“proteger os ganhos dos moderados” nas eleições.
São recomendados mais
apoios aos partidos, cooperação com “os europeus” para canalizar fundos para
Portugal, influenciar o MFA a “tomar decisões democráticas”. A CIA sugeria que
se organizasse uma “campanha mediática para mostrar a desaprovação
internacional da eliminação dos processos democráticos”.
(Texto publicado na Lusa, a 23 de agosto de 2014)
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