Thursday, August 21, 2008

A propaganda soviética e a revolução portuguesa (iii)


O jornalista e autor de "O «Apollo» parte para águas alheias" Oleg Ignatiev, nascido em 1924 e formado em Relações Internacionais, é apresentado na contracapa como jornalista do Pravda, autor de "mais de 600 artigos sobre Portugal com a assinatura O. Ignatiev". [Sempre achei este tipo de contabilidade uma obsessão muito comunista].
Não discuto a questão das empresas de fachada da CIA nem os seus estratagemas, como seria o caso do iate "Apollo".
Há informações cruzadas e incontroversas no livro que é apresentado como "narração documental completa". O que não apresenta são as fontes utilizadas - a não ser uma ou outra referência ao relatório da Comissão Pike, que analisou o falhanço dos serviços de informação norte-americanos na década de 70...
E os erros são clamorosos. Um dos que salta à vista é logo nas páginas 8 e 9 (ler "post" anterior) em que descreve - com citações e tudo... - a discussão na embaixada norte-americana em Lisboa sobre o 25 de Abril logo na manhã do dia do golpe dos oficiais do MFA. Numa sala estão John Morgan, um "homem da CIA", e o embaixador em Lisboa, Stuart Nash Scott. Escrevi estão a negrito e itálico porque Nash Scott estava nessa manhã nos Açores, na base das Lajes. A dormir!... O embaixador seguiu depois viagem para Nova Iorque e só voltou no final do mês. O próprio Scott o escreveu nas memórias e há registos da sua passagem pelas Lajes.
Mais intrigante é saber como terá Ignatiev obtido as actas de uma reunião do Comité dos 40, liderada por Henry Kissinger, secretário de Estado e conselho nacional de segurança, sobre "operações secretas" da "companhia" em Portugal.
Tanto ou ainda mais intrigante foi o jornalista do "Pravda" ter conseguido o teor - com citações e tudo... - das conversações entre um director da CIA, Vernon Walters, com o sucessor de Scott na embaixada de Lisboa, Frank Carlucci, nos meses da brasa em 1975.
E que dizer de Ignatiev ter posto na mesa das conversações dos presidentes de Portugal, António de Spínola, e dos Estados Unidos, Richard Nixon, num encontro na base das Lajes, em Junho de 1974, o líder do então PPD e ministro sem pasta, Francisco Sá Carneiro, além de outros membros da delegação de Nixon? Ora, a conversa foi a dois, Spínola-Nixon, apenas com a presença de um tradutor...
Enfim, a ser tudo verdade, como é contado, era um bom enredo para um livro de Le Carré. Ou então a KGB era verdadeiramente uma "máquina" mais terrível que o Echelon!

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