Tinha passado apenas uma semana desde a queda da ditadura de Marcelo
Caetano, a 25 de abril de 1974. Harold Wilson era
primeiro-ministro no Reino Unido. No número 10 de Downing Street, em Londres, é
feita uma primeira análise do golpe (para já era um golpe). Há dois nomes que
aparecem na ata da reunião desse dia: o “senhor Soares” e o “general Spínola”.
A ata da reunião do governo britânico é de 02 de maio de 1974 e a
posição sobre Portugal é descrita pelo ministro dos Negócios Estrangeiros,
James Callaghan, mais tarde um aliado de Soares nos meses loucos da revolução. Para
já, Londres ia reconhecer o “novo regime”. António de Spínola, presidente da
Junta de Salvação Nacional, era tido como alguém que conseguiu manter a
situação estável em Lisboa. No texto da ata (ver página oito do documento na página dos National Archives*) são curiosas as informações relatadas: sobre a visita de Soares a Londres, como “emissário de Spinola”, e o desejo dos comunistas de participarem no Governo saído do 25 de abril.
Pode não parecer novidade, mas Mário Soares também tem uma confissão, no relato feito por Callaghan: a ambição de ser primeiro-ministro.
Apesar dos “grandes problemas” que Portugal vai enfrentar na transição de um “Estado totalitário para uma democracia”, Callaghan dizia acreditar que estava criada “uma oportunidade” para os portugueses.
Problemático era o dossier da descolonização – primeiro tema de fricção entre os militares do MFA e Spínola. Pela ata percebe-se que “o novo regime” acolheria de bom grado conselhos sobre o tema vindos de Londres...
Curiosa é a forma como Soares, secretário-geral do PS, era tratado na ata: “Senhor Soares”. Assim mesmo, com “n” e “h”. Um ano depois, já seria diferente.
*Consultar este link; para descarregar o documento, faça duplo click em
“download full document”:
(Foto: Fundação Mário Soares)
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