Thursday, November 13, 2008

Colóquio na Fundação Soares (i): a notícia da Lusa

A notícia da Lusa retirada do sapo.pt:

PREC: Ex-PCP Carlos Brito responsabiliza EUA por "derrota" de Aliança Povo-MFA
12 de Novembro de 2008, 23:38
Lisboa, 12 Nov (Lusa) - O ex-militante comunista Carlos Brito responsabilizou hoje os Estados Unidos pela "derrota" do "projecto de Aliança Povo-Movimento das Forças Armadas (MFA)" durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), apontando a "obsessão" dos norte-americanos contra os comunistas.
Carlos Brito falava, na Fundação Mário Soares, em Lisboa, no colóquio "O PREC visto da América", a partir do livro "Portugal Classificado - Documentos Secretos Norte-Americanos 1974-1975", da autoria do jornalista da Agência Lusa Nuno Simas.
O ex-dirigente do PCP defendeu que - a par, em Portugal, da Esquerda "moderada", incluindo o Partido Socialista, da Direita e da Igreja - a "ingerência americana derrotou o projecto de Aliança Povo-MFA", que preconizava uma "economia largamente estatizada" e era sustentado pela "Esquerda Unitária, Partido Comunista, movimento sindical".
Carlos Brito apontou a "obsessão" e a "cruzada" dos Estados Unidos "contra os comunistas", alegando que os norte-americanos temiam que o regime comunista se estendesse a outros países europeus, como Espanha, Itália e Grécia, e pudesse causar "fragilidade na NATO".
O ex-comunista invocou também a "grande arrogância, por vezes insultuosa", dos dirigentes norte-americanos para com "os seus interlocutores" portugueses, nomeadamente com os então Presidente da República Costa Gomes, primeiro-ministro Vasco Gonçalves e ministro dos Negócios Estrangeiros Mário Soares.
"Estivemos em vários momentos à beira de um precipício", declarou Carlos Brito, defendendo que os norte-americanos chegaram a instar Espanha a invadir Portugal ou que houvesse uma Guerra Civil no País.
Hoje, o antigo militante do PCP reconhece que "todos", comunistas e socialistas, são responsáveis pela "sobreposição do poder económico ao poder político" e pelas "desigualdades sociais" em Portugal.
"Fomos todos culpados: os vencidos do 25 de Novembro [de 1975, numa referência aos comunistas]... que puxámos demasido a corda e os vencedores [socialistas]... que a têm deixado encurtar tanto", afirmou.
Por outro lado, para Carlos Brito, a Cimeira dos Açores, que levou à Guerra no Iraque, e a polémica dos voos de prisioneiros da CIA são uma "exuberante demonstração" de como os Estados Unidos continuam a influenciar Portugal.
Também presente no colóquio, o deputado do PS e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do I Governo Constitucional (1976-78) Medeiros Ferreira sustentou, contrariando a intromissão norte-americana aludida por Carlos Brito, que "os novos apoios" do Exterior, incluindo dos EUA, "não foram necessários" ao País, que, "pelos seus próprios meios", impôs, em 1974-75, uma "democracia pluralista".
Medeiros Ferreira afiançou, inclusive, que Henry Kissinger, secretário de Estado do presidente norte-americano Ricard Nixon, "esteve à espera", até Setembro de 1975, "que os militares resolvessem a situação" de instabilidade que se viveu em Portugal durante o PREC (sobretudo entre Março e Novembro de 1975).
Mário Soares, que foi ministro dos Negócios Estrangeiros entre Maio de 1974 e Março de 1975, reforçou, em declarações aos jornalistas no final do colóquio, que nem os Estados Unidos nem a União Soviética sabiam do Processo Revolucionário em Curso, tendo a "ingerência" manifestado-se "a posteriori" quando ambos os países quiseram obter informações.
Referindo-se ao "projecto de Aliança Povo-MFA", o histórico socialista manifestou a sua convicção, à época, de que se tratava de "um projecto para o Partido Comunista tomar conta do Poder".
"Quem nos ajudou [Portugal, no período revolucionário] realmente foram os alemães, italianos, nórdicos e, sobretudo, os ingleses", defendeu no colóquio, sublinhando aos jornalistas que alguns norte-americanos "pensavam que era possível impedir os comunistas pela via militar".
"Mas os americanos não tiveram a importância que se pensava que tivessem tido ou que pudessem vir a ter", defendeu Mário Soares na sua intervenção enquanto moderador.
O jornalista Nuno Simas revelou-se surpreendido com a "crueza da linguagem" da troca de correspondência entre Portugal e Estados Unidos e com o "olhar distorcido" dos norte-americanos, que viam Portugal como "um país à beira de uma nova revolução russa", imagem que, invocou, Mário Soares e o antigo embaixador dos EUA em Lisboa Frank Carlucci procuraram inverter.
O autor de "Portugal Classificado - Documentos Secretos Norte-Americanos 1974-1975", cuja pesquisa durou sete anos, considerou "arrepiante quão perto" o País esteve do "abismo", no período revolucionário, ao ponto de os Estados Unidos quererem, em Setembro de 1975, distribuir armas ao PS, o que foi "travado" pelo então secretário de Estado Henry Kissinger.
ER.
Lusa/Fim

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