Frank Carlucci parecia "um típico mafioso italiano"
JOÃO PEDRO HENRIQUES
Debate. Mário Soares voltou a elogiar ex-embaixador dos EUA"O PREC visto da América" discutido ontem na fundação do ex-presidente
O pretexto foi o livro Portugal Classificado - Documentos Secretos Norte-Americanos 1974 -1975 (editora Alêtheia), do jornalista Nuno Simas, da Agência Lusa. Na sua fundação, Mário Soares moderou um debate sobre "O PREC visto da América", convidando José Medeiros Ferreira (ex-ministro dos Negócios Estrangeiros) e Carlos Brito (dissidente do PCP mas em 1974/1975 um dos principais dirigentes comunistas).Com exemplos concretos da pequena história do período revolucionário, Mário Soares voltou a demonstrar a sua empatia por Frank Carlucci, que no Outono de 1974 chegou a Portugal como embaixador dos EUA. "Um tipo pequenino, vivo. Um típico mafioso italiano!", contou, recordando o momento em que se conheceram. Carlucci chegou a Portugal com Otelo Saraiva de Carvalho (na altura um importante chefe militar e figura de topo na extrema-esquerda castrense) dizendo publicamente que não lhe podia garantir a segurança dada a fúria popular contra o "imperialismo" norte-americano. Costa Gomes, então Presidente da República, pediu a Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros, que assegurasse a Carlucci que nada lhe aconteceria. E aí a supresa: quando Carlucci chegou ao MNE e Soares lhe falou de Otelo, o embaixador revelou que já tinham almoçado com o militar. "Já o tinha metido no bolso! E acabaram a jogar ténis!", contou o fundador do PS, fascinado com a desenvoltura diplomática de Carlucci.Soares disse que os EUA "não tiveram tanta importância como se julga" no o processo revolucionário português. Os países que "ajudaram" à democratização foram a Alemanha, os nórdicos, os italianos e "sobretudo os ingleses". Medeiros Ferreira de certa forma corroborou esta tese afirmando que nos EUA havia "vários centros de poder" e "várias formas de pensar", destacando, por exemplo, que a descolonização "nunca teve no centro das preocupações norte-americanas". E até Carlos Brito admitiu que, apesar das "interferências" dos EUA e da sua "grande arrogância", "não foram os americanos a derrotar a aliança Povo-MFA" (entre o PCP, sectores das Forças Armadas, sindicatos e protagonistas da Reforma Agrária). "Foram os moderados das Forças Armadas, o PS, a Igreja Católica, toda a direita."Mário Soares reafirmou que "havia um projecto do PCP para tomar o poder". Medeiros Ferreira sublinhou, pelo seu lado, um aspecto "admirável" do 25 de Abril: "Portugal dotou-se de um regime democrático sozinho." Ou seja, fora de qualquer processo de democratização na Europa, como os que ocorreram logo após a II Guerra ou, nos anos 90, com a queda do Muro de Berlim.
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