Thursday, May 22, 2008

O livro e os Açores (i)


Gustavo Moura, ex-director do Açoriano Oriental e um dos personagens dos acontecimentos de Junho de 1975 em Ponta Delgada (foto retirada de paralelo37.blogspot.com), escreveu um artigo "Justiça e emoções não fazem bom casamento…" no Correio dos Açores sobre dois livros – Portugal Classificado e “Marechal Costa Gomes – No centro da Tempestade”, de Luís Nuno Rodrigues.

«Nas últimas semanas vieram a público vários livros sobre acontecimentos recentes da nossa vida colectiva, especialmente versando o Movimento de 25 de Abril de 1974 e alguns dos seus protagonistas. Trinta anos depois, muitos arquivos são abertos aos investigadores e documentos na época classificados como secretos ou confidenciais deixam de o ser, ficando ao dispor de historiadores e, em muitos casos, do público em geral. De entre os vários livros recentemente editados sobre estas matérias, dois chamaram a nossa atenção e vou os lendo, com particular interesse e muito cuidado, pois versam uma época e acontecimentos que vivemos intensamente e algum protagonismo. Falamos dos livros “Marechal Costa Gomes – No centro da Tempestade”, de Luís Nuno Rodrigues, e “Portugal Classificado – Documentos Secretos Norte-Americanos 1974-1975”, de Nuno Simas. Os dois trabalhos são amplamente documentados com extensas transcrições de textos oficiais, apontamentos de reuniões ao mais alto nível, telegramas, troca de notas e correspondência diplomática e, também, de observações pessoais de alguns dos intervenientes, retiradas dos seus diários e cartas particulares. Este conjunto de informações permite-nos compreender melhor as circunstâncias que condicionaram os acontecimentos políticos e sociais daquela época, clarificando atitudes que a emotividade da altura e o desconhecimento de todos os dados envolvidos conduziam a pressupostos nem sempre os mais correctos. Mais uma vez se prova que a História necessita de algum distanciamento e de investigação exaustiva das fontes disponíveis e credíveis, para que o juízo sobre acontecimentos e personalidades possa ser o mais justo. (...)


A autonomia é uma conquista política. As conquistas, mesmo as políticas, fazem-se com lutas e a política leva, por vezes, vezes demais, a tortuosos caminhos para atingir o objectivo desejado e nenhum dos seus protagonistas pode reclamar total pureza. E quando é o interesse colectivo que está em causa, as questões pessoais não podem ser determinantes. É sacrifício doloroso, sem dúvida. Mas um interesse superior, por visar o bem comum, assim o exige. »

Nota pessoal: Conheci Gustavo Moura quando era director do Açoriano Oriental e fui em reportagem aos Açores. Recebeu-me no seu gabinete, com algum formalismo, ou não fosse eu, na altura, repórter de um jornal “irmão” – o DN. Gustavo Moura foi um dos personagens dos acontecimentos de Junho de 1975, mas disso não falámos nessa altura, só anos depois quando nos cruzámos num jantar oficial. Sempre meticuloso e rigoroso.

1 comment:

Anonymous said...

Gustavo Moura foi militante da Legião Portuguesa e da A.N.P., e da Frente de Escravização dos Açores. É um jornalista ao nível do Terceiro Mundo, bastando comparar a imprensa que ele dirigiu com a que se fazia no tempo do fascismo para ter a certeza disso.