Sunday, July 06, 2008

Cunhal, o PCP e o Verão Quente



Os acontecimentos políticos em Portugal, em Setembro de 1975, quando, segundo um telegrama arquivado nos National Archives (http://www.archives.org/) dos Estados Unidos, Álvaro Cunhal tentou ser convidado por Harold Wilson e Willy Brandt a visitar o Reino Unido e República Federal da Alemanha, permitem muitas conjecturas. E muitas especulações sobre a explicações possíveis para tal iniciativa. Cunhal estava a jogar em muitos tabuleiros, aliando-se a sectores mais radicais da esquerda – a FUR é um exemplo – ou, no pólo oposto, tentando estabelecer pontes com os moderados dos “grupo dos nove” ou os socialistas de Mário Soares. Era como se Cunhal jogasse uma “simultânea de xadrez” com os restantes personagens do Verão Quente.
(Foto de Rui Nogueira)


Fita do tempo, a partir de Julho de 1975:


8 Julho, o MFA divulga o Documento "Aliança POVO/MFA. Para a construção da sociedade socialista em Portugal.".


Em declarações à imprensa, 12 Julho, Henry Kissinger afirma: “Portugal está a ser a preocupação da América".


A 13 Julho, dá-se o assalto à sede do PCP em Rio Maior. Têm aqui início uma série de acções violentas contra as sedes de partidos e organizações políticas de esquerda, registadas por todo o país mas com maior intensidade no Norte e Centro. Esta onda de violência, associada às forças conservadoras, ficou conhecida por Verão Quente.

O PS de Mário Soares desencadeia grandes manifestações (a maior na Fonte Luminosa, em Lisboa, a 19 de Julho), abandonando o Governo em 16 de Julho. O PPD segue-lhe o exemplo.


A 27 Julho, fogem 88 agentes da ex-PIDE/DGS da prisão de Alcoentre.Três dias depois, a 30 Julho, é criado o “triunvirato” que passa a liderar o Conselho da Revolução - Costa Gomes (Presidente), Vasco Gonçalves (primeiro-ministro) e Otelo Saraiva de Carvalho (chefe do COPCON-Comando Operacional do Continente).


É anunciado, 7 Agosto, o Documento Melo Antunes, apoiado pelo Grupo dos Nove, de militares moderados do MFA, que se opõem às teses do Documento Guia Povo/MFA.
Toma posse, a 8 Agosto, o V Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.


A 10 Agosto, Melo Antunes e apoiantes do “grupo dos nove” são afastados do Conselho da Revolução.


Dois dias depois, é divulgado o "Documento do COPCON", em contraposição ao "Documento dos Nove", e reforçando a ideia de ser atribuído um papel político relevante às Assembleias Populares (poder popular).


A 30 de Agosto, Vasco Gonçalves, o “companheiro Vasco” e aliado (mais ou menos) tácito do PCP, já deixara de ser primeiro-ministro.


A 10 de Setembro, são “desviadas” 1.000 espingardas automáticas G3 das instalações do exército, em Beirolas.


No dia seguinte, no Porto, dá-se a manifestação dos SUV, que defendem o poder popular.


A 19 Setembro, dia em que o Departamento de Estado recebe o telegrama com a informação de que Wilson e Brandt optaram por não convidar Cunhal, toma posse o VI Governo Provisório, chefiado por Pinheiro de Azevedo.


Nos dias seguintes, a 21 e 22 Setembro, agudiza-se a luta política nas ruas: manifestação dos Deficientes das Forças Armadas com ocupação de portagens de acesso a Lisboa e tentativa de sequestro do Governo. As nacionalizações prosseguem.
(A foto deste "post" é estupenda e não quem é o autor. Quem souber, mande um e-mail, please)

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